terça-feira, 17 de maio de 2011

Islã política mulher religião e racismo



César Augusto do Nascimento Moura

Professor de Filosofia e Sociologia

Bin Laden, Filosofia, Religião e Política:

Assassinaram Bin Laden e sumiram até com o corpo por uma série de mitos de ordem religiosa, mas para benefício político do presidente dos Estados Unidos o seu partido e a oposição que se unificaram contra o terrorista que segundo depoimento de uma criança, sua filha de 12 anos, estava desarmado e não esboçou nenhuma reação na hora que foi golpeado violentamente por assassinos muito provavelmente cristãos.

O livro Islã histórico e o islamismo político na primeira parte diz que nos últimos tempos, as religiões parecem ter substituído as ideologias políticas. A politização das religiões seria uma melhor maneira de definir o fenômeno; de qualquer modo, a questão é raramente explicada, ela é simplesmente dada e não admite nem precisa explicações. No máximo, alguns historiadores da contemporaneidade se referem ao “ressurgimento das religiões”, em geral, na década de 1980. As colunas de jornais e revistas “sérias” estão cheias de informações acerca da natureza das mais diversas religiões, ou acerca dos perigos dos “fundamentalismos” respectivos; o mesmo tema domina as prateleiras dos livros mais vendidos ou não, pois a TV facilmente hegemoniza as outras mídias. Somos também advertidos acerca do perigo de uma espécie de cruzada islâmica contra o Ocidente (cristão), ou acerca do iminente (ou corrente) “choque das civilizações”.(Coggiola, 2011:01)

Os princípios filosóficos e doutrinários ocidentais e eurocêntricos sempre condenaram outras lógicas de pensamento de ver o mundo, outras cosmologias e filosofias propriamente ditas. As lideranças religiosas das religiões indígenas e de matriz africana sofreram e ainda sofrem preconceito e discriminação, muitas vezes o extermínio, por parte e com a participação da classe política dominante e principalmente com as bancadas de igrejas eletrônicas e carismáticas que tomaram conta do Congresso, Assembleias e Câmaras no território brasileiro. Bin Laden morreu por causa de religião ou de política e vice versa. Fez parte de um jogo entre a sua família e a família dos Bushs, conforme dizem que são grandes sócios nos Estados Unidos e no Oriente Médio. E os religiosos brasileiros que foram mortos na época da colônia, império e república? – inclusive no RS, a Jacobina, o Cristo Mulher, dos Muckers, por exemplo, que foram assassinados pelo exército imperial - Que “terrorismo” praticava essa gente? Principalmente eles que eram brancos e de olhos azuis? Ora, imaginem (!), se fossem negros ou indígenas nem haveria livros e livros escritos, pois, índios e negros foram cassados e ainda continuam sendo, por um regime excludente e racista. O extermínio foi naturalizado para esses grupos humanos no Brasil em todos os governos.

Escreve Coggiola que muitas vozes “anti-fundamentalistas” se levantam por todo lado. O respeitado historiador Eric Hobsbawm propõe, num Manifesto pela História, um retorno aos valores universais (e universalistas) do Iluminismo. Outras vozes clamam por um “multiculturalismo”, numa perspectiva oposta à existência, real ou potencial, de uma cultura universal; uma construção “multicultural”, por outro lado, da qual estão excluídas a opressão nacional e as contradições de classe, tornadas insuperáveis em virtude de uma subdivisão cultural, que seria ela mesma insuperável pela própria História. A questão da “identidade”, de natureza variável (étnica, cultural, grupal, religiosa, raramente nacional, nunca de classe), substituiu-se às noções de classe ou de nação. A dinâmica histórica pareceria ter tornado a opressão nacional, e a exploração de classe, irrelevantes, ou meros dados suplementares, em absoluto decisivos, dentro de um devir histórico determinado pela “cultura”, da qual a religião pareceria ser a expressão concentrada e suprema.

Diz ainda que, para certa esquerda só restou a possibilidade de criticar o “fundamentalismo de mercado” (ou neoliberalismo), propondo uma volta às receitas (capitalistas) keynesianas do “Estado Benfeitor” (na verdade, interventor), e ignorando que, na época dos monopólios, levada atualmente até o paroxismo, é mais do que escasso o espaço reservado para o mercado de livre-concorrência. Não há globalização comandada livremente pelo mercado. Há uma economia mundial, sob a égide do capital financeiro, organizada de modo rígido, impondo uma verdadeira camisa-de-força às nações mais fracas: os grandes “globalizam”, e os “pequenos” (economicamente, não necessariamente em tamanho) adaptam-se.

A “democracia” norte-americana quer pautar tudo, da religião ao petróleo, da cultura, educação, idosos, juventude às mulheres. Tudo obedece ao interesse dos mercados, das empresas transnacionais, automobilística, farmacêutica, da informação, bélico-armamentistas, equipamentos eletrônicos, de alimentos e do vestuário. Uma verdadeira “seita” dos mercados locais, nacionais e mundiais. A esquerda no poder, via frente popular se adapta perfeitamente, religiosamente ao modelo de “fundamentalismo de mercado”, onde os políticos podem matar por religião, mercado e petróleo e os religiosos podem fazer política e em nome de Deus fazer a política suja do desrespeito, da ganância e da patifaria.

Pode ter certeza que na hora que estouraram Bin Laden aqueles monstros nem perceberam o olhar indefeso da menina de 12 anos, sua filha que estava junto. Depois dizem que se preocupam com Deus, as mulheres e as crianças. Talvez para eles aquela menina pertencesse a uma raça ruim e que merecia ver o pai ser assassinado, talvez ela merecesse, pois já sofre tanto com o islamismo que um balaço dado por um cristão em seu ente querido seria assimilado com naturalidade. Eles pensam o que querem na hora de matar. O presidente da nação poderosa sofreu uma pressão dias antes do assassinato e foi obrigado a mostrar uma certidão que provava ser ele um cidadão americano realmente. Talvez estivesse fracassando em autorizar a execução. Mas os resultados políticos são ótimos para cristãos, Democratas e Republicanos. Aplaudem uns aos outros o tempo todo!

Atividades

Ler, comentar, dialogar e incentivar conversa sobre os assuntos e escrever um texto e publicar.

Fontes: Leituras sobre os textos do historiador, marxista, da CRQI, trotskista e professor da USP, Osvaldo Coggiola e principalmente do seu livro, Islã histórico e o islamismo político, editora Pradense, 2011. Editora aqui do RS.

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